No Brasil, os data centers enfrentam desafios significativos na integração da sustentabilidade em suas operações diárias, sendo o consumo de energia o aspecto mais crítico. Devido à alta demanda de energia, tanto para alimentar os equipamentos de TI quanto para os sistemas de resfriamento, são necessárias soluções inovadoras que incluam o uso de energia renovável e tecnologias de eficiência energética.

Embora o país tenha uma das maiores matrizes de energia renovável do mundo, as empresas precisam equilibrar esses esforços com a competitividade de custos, enquanto a demanda global por energia de data center continua a crescer.

A sustentabilidade dita o ritmo do setor. Por isso, a promoção de estratégias de financiamento verde será um dos principais tópicos da agenda do Investment Forum, que ocorrerá no evento DCD>Connect São Paulo, no dia 5 de novembro.

Nesta entrevista, tivemos a oportunidade de conversar com Daniel Gomes, COO da Um Telecom, que participará do DCD>Painel: Green finance - promovendo estratégias de crescimento sustentável para a expansão de negócios de data centers.

Atualmente, no Brasil, quais são os desafios mais significativos que as empresas enfrentam ao incorporar práticas de sustentabilidade nas operações diárias de seus data centers?

Os principais desafios estão relacionados ao consumo de energia no data center, pois trata-se do insumo mais utilizado, sendo empregado principalmente para alimentar os equipamentos de TI e os sistemas de resfriamento. Para se ter uma ideia, um data center com 10 MW de carga de TI, que representa aproximadamente 15 MW de carga total, consome energia equivalente a uma cidade com cerca de 50 mil habitantes, como o município de Campos do Jordão/SP.

Nesse contexto, utilizar energia advinda de fontes renováveis, como hidrelétrica, solar e eólica, por exemplo, é essencial.

O Brasil está entre os países com a maior matriz elétrica proveniente de fontes renováveis do mundo, com cerca de 90%, em comparação com a média global de 48%. Isso permite que o desafio da sustentabilidade seja melhor endereçado no Brasil do que em outros países, já que aqui é possível e viável utilizar energia verde nos data centers, tornando o Brasil um potencial grande player mundial de data centers para provimento de serviços não apenas internos, como também para outros países do mundo.

Um outro desafio é a busca contínua e implementação de práticas de eficiência energética visando reduzir o consumo, tais como o uso de equipamentos de TI, de energia e de resfriamento mais modernos, a virtualização de servidores, a contenção de ar com o confinamento de ar quente ou frio e, mais recentemente, o uso de inteligência artificial para o gerenciamento de energia, que ainda deve evoluir bastante.

Por outro lado, há uma questão relacionada à concorrência e ao mercado, pois como ainda não há regulação que obrigue práticas de eficiência energética nos data centers, são apenas algumas empresas contratantes que valorizam e promovem diferenciais competitivos ligados à sustentabilidade em suas contratações. Nesse sentido, é necessário que os data centers alinhem suas práticas de sustentabilidade com uma gestão de custos eficiente, garantindo que essas iniciativas não impactem significativamente o seu preço final, de forma que se mantenham competitivos em relação a empresas que não adotam as mesmas práticas e, por consequência, podem apresentar custos menores.

De que forma os data centers podem equilibrar a rápida expansão de suas operações com as crescentes exigências por ações sustentáveis, como responsabilidade ambiental e eficiência energética, sem comprometer a performance?

Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), o consumo de eletricidade de data centers, sobretudo com a inteligência artificial (IA) e o setor de criptomoedas podem dobrar até 2026. Em 2022, os data centers consumiram 460 terawatts-hora (TWh) e, já em 2026, a estimativa é que esse consumo pode chegar a 1.000 TWh, uma demanda equivalente ao consumo de energia duas vezes maior do que o consumo anual do Brasil, que gira em torno de 500 a 600 TWh. A expansão mundial do setor de data centers deve ser responsável por mais de um terço da demanda mundial adicional de energia elétrica até 2026, considerando todos os setores.

Em se tratando de Brasil, eu acredito que temos potencial e que teremos demanda para, pelo menos, quadruplicar a capacidade do país em data centers, dos, aproximadamente, 500 MW atuais para 2 GW no horizonte dos próximos 3 a 5 anos.

Esses dados mostram como o setor está em pleno crescimento e não há como crescer sem pensar na sustentabilidade. A busca deve ser incessante pela melhor eficácia energética possível, que pode ser medida através do PUE, ou a relação entre a quantidade total de energia consumida pelo data center e a energia consumida exclusivamente pelos equipamentos de TI. Para isso, acredito que ainda exista muito espaço para evolução, sobretudo com o uso de IA para o gerenciamento da energia.

Por fim, o crescimento do uso da de aplicações que usam IA de forma global, que demanda um processamento elevado e, consequentemente, produz um aquecimento muito maior, inevitavelmente precisará tornar viáveis outras técnicas de resfriamento dos equipamentos, como o liquid cooling, por exemplo, que usa líquido, ao invés de ar, como meio principal de dissipação de calor do processador, lembrando o sistema de arrefecimento veicular que é feito pelo radiador.

Quais são as melhores práticas para medir e relatar o impacto ambiental dos data centers, e como essas métricas podem ser estrategicamente utilizadas para atrair investidores interessados em projetos sustentáveis?

Acredito que ainda temos muito a evoluir nesse aspecto. Entendo que as métricas de impacto ambiental não são padronizadas entre as empresas. Algumas delas, inclusive utilizadas por empresas referência de mercado em seus relatórios de sustentabilidade são: 1) percentual de utilização de energia renovável; 2) eficácia do uso de energia (PUE); 3) emissões de gases de efeito estufa; 4) eficácia do uso de água (WUE) e 5) certificações de sustentabilidade ambiental.