A crescente adoção da inteligência artificial está transformando o planejamento e o investimento em data centers em todo o mundo. Esse fenômeno traz novos desafios e oportunidades, especialmente em termos de infraestrutura, eficiência energética e automação, exigindo mais recursos tecnológicos mas que também sejam sustentáveis. No caso do Brasil, seu potencial para atrair investimentos em data centers de IA depende de vários fatores, como sua sólida matriz energética renovável e sua localização estratégica na América Latina. No entanto, o país ainda enfrenta barreiras, como os altos custos de importação de tecnologia, que podem limitar sua competitividade nesse campo emergente.

A perspectiva de investidores e empresas do setor de data center será discutida no Investment Forum que acontecerá dentro do evento DCD>Connect São Paulo. No dia 5 de novembro, especialistas discutirão como a inteligência artificial está transformando o fluxo de investimentos no setor e como essa tecnologia está mudando as decisões e estratégias de expansão no DCD>Painel: Como a IA altera o fluxo de investimentos no setor de data centers?

Um dos painelistas é Marcel Saraiva, Gerente de Vendas da Divisão Enterprise da NVIDIA no Brasil, um executivo com mais de 20 anos de experiência no mercado de TI, com quem conversamos antes da sua participação no evento.

Quais são os principais fatores que a inteligência artificial traz à discussão quando se consideram novos investimentos em data centers?

A inteligência artificial (IA) está mudando radicalmente o modo como pensamos sobre a infraestrutura de data centers. Primeiramente, o aumento exponencial na demanda por processamento de dados, especialmente para aplicações de IA Generativa, exige uma infraestrutura mais robusta e otimizada para lidar com cargas de trabalho intensas. Isso implica maior necessidade de GPUs de alto desempenho e plataformas capazes de suportar ambientes de computação distribuída e escalável. A IA também está impulsionando inovações em eficiência energética, já que essas cargas de trabalho consomem uma quantidade significativa de energia. A sustentabilidade, portanto, se torna um fator crítico na decisão de novos investimentos. Por fim, a automação, possibilitada pela IA, traz maior eficiência na gestão dos data centers, reduzindo custos operacionais e melhorando a resiliência

O Brasil está preparado para receber data centers de IA? A localização geográfica do país e seus acordos comerciais internacionais podem influenciar na atração de investimentos para a construção de data centers de inteligência artificial?

O Brasil tem um potencial considerável para se posicionar como um destino importante para data centers de IA, mas ainda existem desafios que precisam ser superados. Em termos de infraestrutura, o país tem avançado na construção de novos data centers, disponibilidade de conectividade e um ponto muito importante: temos uma matriz energética renovável incrível, mais de 94% da energia produzida no Brasil vem de hidroelétricas, tornando o data center mais sustentável. No entanto, questões relacionadas às taxas de importação representam um grande obstáculo, uma vez que aumentam significativamente o custo de se investir em tecnologia no Brasil, encarecendo a implementação de data centers de ponta. A localização geográfica do Brasil, por outro lado, oferece vantagens, como a proximidade a mercados emergentes na América Latina. Acordos comerciais internacionais também podem facilitar a importação de tecnologia de ponta e estimular parcerias estratégicas, elementos fundamentais para atrair investimentos significativos.

Quais tendências globais em inteligência artificial o Brasil deveria acompanhar para se tornar um polo relevante no desenvolvimento de data centers?

O Brasil precisa se atentar a várias tendências globais para se destacar no desenvolvimento de data centers focados em IA. Primeiro, é essencial priorizar investimentos em arquiteturas específicas, como GPUs de alto desempenho, rede de baixa latência e sistemas de computação diversificada, que são cruciais para dar suporte a aplicações avançadas de inteligência artificial. A adoção de práticas sustentáveis está em ascensão, com diversos países já implementando tecnologias mais eficientes de resfriamento e uso de fontes de energia renovável em seus data centers. Outro aspecto importante é a expansão do edge computing, que trará maior capacidade de processamento em pontos mais próximos dos usuários, algo fundamental para reduzir a latência em aplicações de IA. Por fim, o Brasil deve investir na formação de profissionais especializados em IA e ciência de dados, pois essa capacitação será chave para impulsionar a inovação no setor e fortalecer o ecossistema tecnológico do país.