Na quinta-feira, 17 de abril, a DCD entrevistou Andre Sih, Founder e Managing Partner da Fu2re, empresa especializada em soluções de inteligência artificial que transformam operações e otimizam processos nas indústrias de energia, óleo e gás. O encontro virtual abordou a evolução da Fu2re e suas inovações em inteligência artificial, destacando a trajetória da empresa desde 2004 até a identificação de oportunidades de mercado em 2017.
Nesse ano especialistas e publicações destacaram a Indústria 4.0 como a próxima grande revolução industrial, comparável às anteriores em impacto e transformação. A inteligência artificial (IA) foi apontada como o motor principal dessa revolução, prometendo impulsionar a automação, a análise de dados em tempo real e a integração de tecnologias como IoT, Big Data e computação em nuvem. O primeiro projeto da empresa foi feito para a Light, na cidade do Rio de Janeiro – onde a startup foi criada – e em 2018 recebeu o convite da NVIDIA para ser a primeira startup a ser acelerada na América Latina. Sih conta que Marcio Aguiar, Head Latam da NVIDIA, gostou da plataforma Smart Vision desenvolvida pela empresa, que permite a qualquer usuário treinar modelos de IA para reconhecimento de imagens. Andre Sih também apresentou soluções como o Smart Assets, que melhora a eficiência na coleta de dados sobre redistribuição de energia e iluminação pública.
Andre Sih destacou a necessidade de um business case sólido para a adoção de IA em setores tradicionais, como energia. Ele também afirmou que, embora ferramentas como o ChatGPT possam aumentar a produtividade, elas não são essenciais para o core business de muitas empresas. A experiência da Fu2re em inteligência computacional é um diferencial importante, na visão do executivo, que também falou sobre a atuação da empresa no mercado de data centers, ressaltando os desafios e a preocupação com a sustentabilidade no consumo de energia.
Sobre a fundamental questão do consumo energético relacionado à IA e aos modelos de linguagem de grande escala (LLMs), Sih comentou que atualmente existem duas perspectivas principais de debate: Uma mais otimista sobre a eficiência energética, em que alguns especialistas acreditam que os modelos atuais são, de fato, ineficientes e consomem muita energia durante o treinamento. No entanto, eles argumentam que avanços tecnológicos, como novos chips e algoritmos mais eficientes, resolverão rapidamente esse problema. Assim, as projeções de aumento de consumo energético podem não se concretizar. Por outro lado, há quem defenda que o uso crescente de IA, especialmente em escala global, levará a um aumento significativo no consumo de energia. Com mais pessoas utilizando IA, o consumo pode dobrar, e as empresas enfrentam desafios para atender a essa demanda crescente. Além disso, o potencial completo da IA ainda está longe de ser alcançado, o que pode intensificar essa tendência.
Ao falar sobre a questão da guerra comercial entre as maiores superpotências do mundo – EUA e China – Andre Sih acredita que estamos dando vários passos para trás. A autossuficiência energética tem se tornado uma prioridade estratégica para muitas nações, especialmente nesses tempos de tensões geopolíticas e guerras comerciais. A energia é um recurso essencial que impacta diretamente a segurança nacional, a economia e a capacidade de um país de se adaptar a crises globais. Mais especificamente sobre o Brasil, o presidente dos EUA, Donald Trump, estabeleceu alguns graus de relacionamento com seu país – alguns são amigos e outros, inimigos – e o Brasil por enquanto está em um meio termo – mas não se sabe o que vai acontecer. Somos um país importante por fornecer comodities agrícolas, minérios, energias e será preciso fazer escolhas. Em algum momento, o Brasil precisará se posicionar.
Sobre um dos principais assuntos do momento, o especialista da Fu2re diz que a inteligência artificial generativa (GenAI), como o ChatGPT, trouxe uma explosão de interesse e mostrou o potencial transformador da IA. No entanto, ainda há um longo caminho para explorar suas aplicações em áreas além da geração de texto, como análise preditiva, automação de processos, personalização de serviços e até mesmo inovação em produtos. A adoção da IA é, de fato, um divisor de águas para empresas. Aqueles que conseguirem integrar essa tecnologia rapidamente terão uma vantagem competitiva significativa, enquanto os que hesitarem podem enfrentar dificuldades para se manterem relevantes. Além disso, a IA não apenas melhora a eficiência, mas também pode abrir portas para novos modelos de negócios e oportunidades.
E a rápida ascensão da IA traz uma discussão complexa e fundamental: o uso ético da tecnologia. A regulamentação ética da IA é necessária para garantir que seu uso seja seguro, responsável e alinhado com os valores sociais. Na Europa, a discussão sobre regulamentação já está bastante avançada, com iniciativas como o AI Act, que é o primeiro quadro jurídico abrangente para IA no mundo. Ele busca equilibrar inovação e segurança, classificando os sistemas de IA em níveis de risco e impondo regras proporcionais a cada nível. Para Sih, que é Conselheiro da ABRIA (Associação Brasileira de Inteligência Artificial), a regulamentação da IA é fundamental para determinar parâmetros sobre o que pode ser feito e como pode ser feito e é preciso saber dosar – muita restrição pode limitar o desenvolvimento e uma liberação excessiva pode causar usos indevidos.
Para encerrar a entrevista, Andre Sih afirmou que a Fu2re está crescendo junto com o mercado e tem capacidade de competir – não em todos, mas em mercados específicos, como o das fintechs, pelo fato de o Brasil ter um sistema bancário extremamente evoluído, e o da energia.